O que é a relação EV/EBITDA? Definição e cálculo.

A relação EV/EBITDA é uma métrica de avaliação que compara o valor da firma (EV – Enterprise value) com o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que é uma aproximação da capacidade de geração de fluxo de caixa de um negócio. Neste artigo iremos explicar os usos e limitações da métrica EV/EBITDA.

O que é o valor da firma?

O valor da firma é similar ao cálculo do valor de mercado (ações x número de ações), entretanto, este é mais abrangente já que considera a dívida líquida. Dessa forma é possível ter uma melhor comparação dentro de uma indústria.

O que é o EBITDA e onde ele é encontrado?

EBITDA é uma sigla que significa lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Os investidores muitas vezes usam o EBITDA como uma métrica para calcular os fluxos de caixa de uma empresa, ou mais especificamente, a quantidade de dinheiro que uma companhia poderia alocar para fazer frente as obrigações financeiras.

O EBITDA pode ser calculado a partir da demonstração de resultados de uma empresa (DRE). Normalmente esse valor também é exposto nos press-releases de resultados.

Como calcular a relação EV/EBITDA?

Após encontrar ambos os valores (EV e EBITDA), basta realizar dividir um pelo outro. Para facilitar. Veja o exemplo abaixo para entender como isso funciona na prática.

Exemplo de EV/EBITDA

Para ver um exemplo de EV/EBITDA na prática, considere a seguinte empresa hipotética:

Valor de mercado: R$ 10 milhões

Dívida líquida: R$5 milhões

EBITDA: R$ 3 milhões

Para descobri o valor da firma: Valor de mercado + dívida líquida (10+5 =15 milhões).

Com isso, basta dividir o EV pelo EBITDA (15/3 = 5 EV/EBITDA)

Prós e contras do EV / EBITDA

Embora a maioria dos investidores aprenda sobre a relação preço / lucro, o EV / EBITDA se tornou uma ferramenta convencional para análise financeira. É particularmente popular para analisar empresas com uma despesa financeira elevada, como empresas de aviação.

O EV / EBITDA também é altamente útil para analisar diferentes empresas dentro da mesma indústria que usam uma estrutura de capital diferente. Por exemplo, se uma cadeia de varejo possui todas as suas lojas enquanto a outra as aluga, excluir a depreciação dos prédios das lojas pode dar aos investidores uma comparação mais justa de sua economia subjacente.

Um grande problema com a relação EV/EBITDA é que os custos excluídos no cálculo do EBITDA são, na verdade, despesas reais. Impostos e juros devem ser pagos, e a depreciação também é uma despesa real, mesmo não sendo caixa no d0. Uma empresa que economiza na reparação de seus ativos físicos, como veículos ou prédios, provavelmente não conseguirá manter sua competitividade em relação aos seus concorrentes no longo prazo.

Tudo isso para dizer que, embora o EV/EBITDA seja um contexto útil, por si só não é uma conta definitiva, pelo menos para os investidores em ações. O EBITDA foi criado com o objetivo de avaliar quanto alavancagem um negócio poderia manter – especificamente, quanto juros uma empresa poderia pagar em função de seus fluxos de caixa atuais. Essa é uma informação altamente útil do ponto de vista de um credor, mas pode levar a conclusões incompletas ou errôneas para os acionistas.

Outra desvantagem da abordagem de avaliação EV/EBITDA é que algumas empresas se tornaram cada vez mais agressivas com os tipos de despesas que adicionam de volta em seus cálculos de EBITDA “ajustado”.

Por fim, alguns negócios, como bancos, em geral não devem ser avaliados usando EBITDA (nem EBIT) e, portanto, nunca avaliados de acordo com uma relação EV/EBITDA.

Importante: EV/EBITDA pode ser uma métrica ótima para analisar as capacidades subjacentes de geração de fluxo de caixa de uma empresa. No entanto, os investidores também devem prestar muita atenção no percentual desse indicador que vira, de fato, caixa

Que tipos de empresas não devem ser avaliadas através do EV/EBITDA?

Os investidores podem se meter em encrenca ao usar o EBITDA para analisar empresas em que os gastos de capital são elevados e recorrentes.

Por exemplo, em algo como um operador de cruzeiro, a depreciação é um gasto muito real. Um navio de cruzeiro antigo não será capaz de atrair clientes e, em algum momento, sua própria navegabilidade seria questionada.

Um investidor provavelmente não deveria simplesmente ignorar a depreciação como um gasto não monetário; se um novo navio de cruzeiro não for comprado em tempo hábil, o negócio poderá deixar de funcionar.

 

Existem muitas indústrias em que a depreciação não é apenas uma consideração contábil, mas sim um gasto muito real que vem com consequências tangíveis se for ignorado por muito tempo.

Até o próprio Warren Buffett, em 2000, destacou essa questão na carta anual de acionistas:

“Referências ao EBITDA nos fazem tremer – será que a administração acredita que a fada dos dentes paga pelos gastos de capital? Somos muito desconfiados de metodologias contábeis vagas ou obscuras, pois com muita frequência isso significa que a administração deseja esconder algo.”

Por outro lado, alguns negócios podem possuir uma depreciação não tão “real” e recorrente.

Pense em algo como imóveis, onde um prédio muitas vezes é depreciado significativamente devido ao envelhecimento, mesmo que o valor do terreno e da estrutura subjacente possa manter seu valor e talvez se valorizar. Dito isto, em indústrias altamente intensivas em capital, onde os ativos se desgastam rapidamente, deve-se ter cuidado extra antes de confiar totalmente em uma razão de avaliação EBITDA em lugar dos lucros.

Resumindo, EV/EBITDA pode ser uma métrica útil. No entanto, é apenas uma dentre várias métricas que deverão ser acompanhadas em conjunto.